domingo, 28 de julho de 2013

Capitão Gancho

Tique. Taque. Tique. Taque. Tique. Taque.
O relógio digital foi uma das melhores invenções da história da humanidade. De repente, a lembrança constante do cair das areias do tempo foi substituído por um correr silencioso.
Tique. Taque. Tique. Taque. Tique. Taque.
E é claro que eu resolvi ser imbecil e comprar um relógio tradicional. “Quero sentir a passagem do tempo, quero uma lembrança constante de que o relógio não espera ninguém”, eu dizia, e comprei um relógio de parede igual o que tinha no sítio do meu falecido avô quando eu era criança, daqueles com um cuco que anuncia a virada da hora.
Tique. Taque. Tique. Taque. Tique. Taque.
Sabe o que é mais intimidador que uma folha em branco? Uma folha em branco com um relógio tique-taqueando por trás. De repente aquele bloqueio criativo parece intransponível. Procrastinar (se procrastinar não faz parte do seu processo criativo, pare de mentir) parece um crime hediondo.
Tique. Taque. Tique. Taque. Tique. Taque.
E aí você se desespera. Você tenta colocar qualquer coisa na página. O resultado não é satisfatório, mas é alguma coisa. Você se sente aliviado por ter conseguido vencer o tempo. A crise foi impedida. O dia foi salvo.
PEIM-CUCO! PEIM-CUCO! PEIM-CUCO! PEIM-CUCO!