Tique. Taque. Tique.
Taque. Tique. Taque.
O relógio digital foi
uma das melhores invenções da história da humanidade. De repente,
a lembrança constante do cair das areias do tempo foi substituído
por um correr silencioso.
Tique. Taque. Tique.
Taque. Tique. Taque.
E é claro que eu
resolvi ser imbecil e comprar um relógio tradicional. “Quero
sentir a passagem do tempo, quero uma lembrança constante de que o
relógio não espera ninguém”, eu dizia, e comprei um relógio de
parede igual o que tinha no sítio do meu falecido avô quando eu era
criança, daqueles com um cuco que anuncia a virada da hora.
Tique. Taque. Tique.
Taque. Tique. Taque.
Sabe o que é mais
intimidador que uma folha em branco? Uma folha em branco com um
relógio tique-taqueando por trás. De repente aquele bloqueio
criativo parece intransponível. Procrastinar (se procrastinar não
faz parte do seu processo criativo, pare de mentir) parece um crime
hediondo.
Tique. Taque. Tique.
Taque. Tique. Taque.
E aí você se
desespera. Você tenta colocar qualquer coisa na página. O resultado
não é satisfatório, mas é alguma coisa. Você se sente aliviado
por ter conseguido vencer o tempo. A crise foi impedida. O dia foi
salvo.
PEIM-CUCO! PEIM-CUCO!
PEIM-CUCO! PEIM-CUCO!