Por muito
tempo estimei as passantes como as mulheres ideais do homem tímido.
Aqueles que, como eu, não sabem, ao falar com uma mulher, onde
enfiar essas mãos cheias de dedos e terminam por metê-las pelos
pés, acabando num nó de complicações inexistentes, sabem de cor
seu charme: a passante existe somente durante o breve momento em que
nossos caminhos se cruzam, mas, em compensação, é tudo o que você
quer que ela seja. Se você tenta alcançá-la, ela desaparece em uma
mulher real; a desculpa perfeita para a contemplação distante!
Mas eu me
enganei! Há um arquétipo ainda melhor para entregarmos nossos
coraçõezinhos: a paixão distante. As vantagens de se apaixonar por
uma ausente são, para quem já o fez, bem claras. Mantém-se o mais
importante: a desculpa para jamais tomar qualquer tipo de atitude em
relação aos seus sentimentos. Afinal, ela vive tão longe, que bem
poderia trazer declarar-se? Você não poderia tê-la mesmo... não,
não, melhor continuar confortavelmente calado. A outra vantagem, e
isso pode soar estranho após o que foi dito das passantes, é
justamente uma concretitude maior. Claro, perdendo-se um bocado de
idealização, perde-se a perfeição. Mas ganha-se a sensação de
amar uma mulher de verdade, com gostos, sentimentos, jeito de falar,
dia a dia, tudo aquilo que uma mulher de verdade partilharia com
você. E enquanto ela te conta sobre tudo isso, vai crescendo em você
a ilusão de que, quem sabe, ela sinta o mesmo. De que ela esteja
apenas esperando o momento em que você irá de encontro a ela para
que possam ser felizes para sempre. A paixão distante é perfeita
para nós, companheiros, porque é o mais perto que se pode chegar de
uma mulher real sem se comprometer, sem se expôr aos riscos
envolvidos na conquista de uma mulher de carne e osso. Poderia ser
melhor que isso? Vou até entrar no Facebook, ver se uma certa sueca
está online...