É engraçado como é
só tentar pensar e de repente você não consegue pensar em nada. Eu
seria um puta meditador se ao invés de tentar acalmar minha mente eu
tentasse botar ela pra funcionar. Uma página em branco é melhor que
qualquer mantra. Dava até pra fazer um retiro: levar uma galera pro
meio do mato, mandá-los se sentarem e botar uma folha em branco na
frente de cada um e falar que eles precisam escrever um protótipo de
romance em quarenta minutos. Pronto, uma sala inteira de mentes
perfeitamente vazias, completamente harmonizadas com o universo. Os
infelizes que não conseguirem ao menos sairão de lá com uma ideia
pra um livro; todo mundo ganha!
É muito mais fácil
escrever quando você não precisa de consistência. Se você vai
escrever um texto pra valer, é terrível, depois que você começou
você tem que se compromissar em seguir naquela linha (que pode te
levar pra vários caminhos e dar voltas e se dividir e o caralho a
quatro, mas, mesmo assim, exige um certo compromisso). Quando você
está só exercitando o cérebro, como quem liga uma moto que não é
usada há muito tempo e espera ela esquentar o motor, acelerando de
vez em quando (no ponto-morto, claro) mas, no geral, só deixando ela
por conta própria, quando você faz isso você pode só ir indo e
quando o fio do raciocínio acabar você solta ele e pega um outro
fio qualquer no emaranhado. Sempre tem um emaranhado, é só que,
geralmente, você não sabe onde cada fio vai levar então não
apanha nenhum.
Aí, mais um daqueles
momentos de branco. Paz total. Mestre zen.
NAMYOHORENGUEKYONAMYOHORENGUEKYONAMYOHORENGUEKYONAMYOHORENGUEKYOOOOOOOOOO.
Sabe, eu até achava
que a máquina de escrever era melhor que o computador pra exercícios
de escrita livre -você só vai, como não tem como apagar, não fica
se limitando-, mas falta nela uma coisa essencial: um alt+tab pra
mexer no Facebook ou dar uma olhadinha na Wikipédia. Nada como dar
uma micro-procrastinada (que às vezes deixa de ser micro e resulta
no fim do texto) pra preencher este vazio que fica entre cada
raciocínio. Parece que pensar fica muito mais fácil, já que você
pensa sem pensar. Sacou?
No fim, um dos maiores
benefícios da escrita livre é que você aprende uma lição
valiosa: às vezes, o melhor jeito de superar aquela parede branca na
sua mente é simplesmente dar a volta nela. Pensar com a simplicidade
de uma criança.
Aliás, acabei de
decidir uma meta pra este exercício. Não, eu não tinha uma quando
comecei, tava só escrevendo. Resolvi que vou preencher a página
inteira. Afinal, um exercício deses não tem um “fim”, o fim é
completamente arbitrário. Então vou botar o fim da página, que não
tá muito longe mas ainda vai exigir que eu deixe a máquina rodar
mais um pouco.
Sabe, às vezes eu
sinto que na minha cabeça tem uma máquina a vapor. E de vez em
quando, de repente parece que alguém do nada lota ela de carvão e
eu sou tomado por uma energia frenética e a máquina começa a rodar
a todo vapor e eu preciso escrever (e isso quase sempre acontece
quando não tenho nada a mão). Aliás, isso me acontece muito no
metrô. Mas não sempre que pego, especificamente à noite, quando
estou indo pra algum rolê e o metrô está vazio. De repente eu fico
louco pra chegar onde estou indo (TUM-DUDUM – I'VE BEEN WAITING SO
LONG – TUM-DUDUM – TO BE WHERE I'M GOING- TUM-DUDUM – IN THE
SUNSHINE OF YOUR LO-OO-O-OO-O-OO-OVE) e fico todo agitado e me vem na
cabeça uma imagem do metrô correndo por cima da terra, implacável,
destruindo tudo em seu caminho e deixando uma nuvem de poeira atrás
de si, comigo no lugar do maquinista rindo como um maníaco. Às
vezes até com um chapéuzinho de maquinista listrado azul e branco.
É, tipo o do Dick Vigarista mas com outro esquema de cores.
Engraçado como o
desespero de quando dá um branco logo no fim da meta o desespero é
maior. Porra, você chegou tão perto, ACABA ISSO, PENSE EM ALGO. É
tipo quando você tem um prazo. Se bem que, quando o prazo tá quase
estourando, geralmente se acha uma fonte mágica de criatividade (ou
isso ou se desliga o senso crítico e faz o que for possível, o que
às vezes dá muito certo e outras nem tanto). Mas, no fim, é só
deixar ir fluindo que a coisa vai. Olha só: eu já estou na
antepenúltima linha. É só eu continuar falando disso mais um
tempinho e eu enrolo tempo o – opa, mais uma linha! – eu enrolo
por tempo o suficiente pra acabar o texto. Opa, espera aí, não era
antepenúltima, aquela ali era a penúltima. Ih, rapaz, já estou em
outra página. Isso é adeus, então, nobilíssimo leitor. Vou ali
tomar um banho.